Muitas empresas têm o que reclamar do ano de 2018. Não é o caso da Volvo. A marca sueca é a terceira que mais vende caminhões no país, com 13,44% de participação – em junho, esse percentual cresceu para 14,33%. Embora produza somente veículos pesados e semipesados – segmentos que, juntos, são responsáveis por quase 70% das vendas atuais de caminhões no país –, foi superada apenas por Mercedes-Benz e Volkswagen, que fabricam caminhões em todos os segmentos. Uma das explicações para o desempenho da Volvo é o bom momento do agronegócio brasileiro. Safras recordes embalam as vendas nacionais de caminhões. “Os últimos três anos foram muito difíceis. Mas, em 2018, já estamos experimentando uma inversão na curva do mercado de caminhões. Puxado pelo agronegócio, o crescimento tem sido mais evidente no segmento de pesados, justamente onde nós temos uma posição de liderança no Brasil”, comemora o engenheiro mecânico e administrador de empresas curitibano Bernardo Fedalto Jr., de 59 anos, diretor comercial de caminhões da Volvo no Brasil. Segundo o executivo, o momento é positivo para os fabricantes de caminhões instalados no país, mas a recuperação será lenta e gradual. “Nossa expectativa é que o mercado continue nesta mesma velocidade de expansão. Esperamos que inflação e juros se mantenham em baixa e que a política econômica permaneça no sentido de se abrir mais ao mercado. Isto favoreceria a manutenção de um cenário mais positivo para todos, inclusive para o setor de caminhões”, pondera Fedalto, que começou na Volvo como estagiário em 1980, junto com a inauguração da fábrica da empresa em Curitiba.
P – Dentro da linha de caminhões da Volvo, quais são os atuais destaques?
R – No segmento rodoviário, o FH é o maior desejo de consumo entre os transportadores brasileiros, justamente por alguns atributos que o fazem a melhor opção: alta disponibilidade, alta produtividade, muita segurança e baixo consumo de combustível. O FH 6×4 com motor de 540 cavalos vem ocupando a lista dos mais vendidos entre os pesados nos últimos anos. Mas toda a linha F é muito bem aceita no Brasil e é usada em uma enorme variedade de aplicações. No segmento vocacional, o FMX está sendo muito utilizado em aplicações de madeira, na mineração e também, é claro, no setor sucroalcooleiro. Outro grande destaque é o VM 6×4 na versão 32 toneladas. É um caminhão pesado que tem obtido muita aceitação em trabalhos na construção civil, como transporte de areia e pedra brita, e inclusive em atividades de apoio nas plantações de cana.
P – A Volvo normalmente tem bons resultados nos caminhões vocacionais para o segmento sucroalcooleiro, que é um dos mais fortes do agronegócio brasileiro. A que atribuem esses bons resultados?
R – No setor sucroalcooleiro, os preços internacionais não estão tão bons. Com margens pequenas e rentabilidade baixa, o setor precisa reduzir custos. E nossos caminhões são ideais, inclusive nos períodos de mercado em baixa, porque o custo por tonelada transportada é menor nos veículos Volvo. Estamos sempre entre os líderes de vendas para a indústria sucroalcooleira. O mercado reconhece que nossos caminhões têm grande disponibilidade e produtividade, dois atributos muito importantes quando se trata de transporte dos produtos do agronegócio.
P – No setor de transportes de cargas, dois grandes temas globais são a conectividade e a automação. Quais são as propostas da Volvo para esses temas dentro do mercado brasileiro?
R – Temos o caminhão mais conectado do mercado. O FH é dotado de uma variedade de tecnologias que o tornam o veículo de transporte mais moderno e atualizado do setor. A conectividade é a base dos avanços tecnológicos que promovemos na nova linha de caminhões Volvo. Nossos veículos têm dispositivos nesta área para tornar a operação de transporte mais rentável. Estas ferramentas de conectividade terão papel decisivo para reduzir drasticamente o número de paradas não planejadas dos caminhões. A visão da Volvo é ainda mais ousada. No futuro, queremos zerar o número de paradas não planejadas com os caminhões da marca. O FH vem preparado, por exemplo, para ser equipado com o I-See, um espetacular sistema que lê a topografia da estrada e a memoriza. Numa viagem futura pela mesma rodovia, o dispositivo utiliza os dados para, automaticamente, tornar mais eficiente a troca de marchas e contribuir para melhorar o desempenho do caminhão e poupar combustível. Outra importante oferta nesta área é o Dynafleet, que oferece ao transportador relatórios de desempenho que mostram o perfil do veículo e também de cada motorista, facilitando e agilizando o acompanhamento individual do consumo de combustível. É possível, por exemplo, ranquear o desempenho dos motoristas, para balizar correções e treinamentos futuros. Quanto à automação, a Volvo foi pioneira no Brasil ao lançar recentemente o caminhão VM com tecnologia autônoma, voltado para uma operação de colheita de cana. Desenvolvido pelas engenharias brasileira e sueca, o veículo já é uma realidade e totalmente viável economicamente. Estamos fazendo os últimos testes antes de comercializá-lo. É uma solução avançada e inovadora. O VM Autônomo foi projetado para eliminar a perda de produtividade provocada pelo pisoteamento de soqueiras (os brotos) pelo caminhão durante a colheita da cana. O problema é responsável por prejuízos que giram em torno de 12% da produção anual de cana-de-açúcar. O caminhão autônomo, sozinho, elimina um terço dessa perda.
P – Outros assuntos em alta no setor de transportes de cargas são a eletrificação e os combustíveis alternativos. Como estão os projetos da Volvo nesses setores?
R – No caso de eletrificação, a meta é lançar em mercados específicos da Europa algumas soluções de caminhões elétricos a partir de 2019. Não temos ainda nenhuma solução nesta área prevista para lançamento no Brasil. Também não temos previsão de lançar nenhum veículo movido a combustível alternativo para o mercado brasileiro. A Volvo possui a tecnologia para diferentes tipos de combustíveis, mas os esforços tecnológicos atuais da marca estão mais voltados à eletrificação.
P – Quais são as perspectivas da Volvo para o mercado brasileiro de caminhões no segundo semestre?
R – Após a paralisação do mercado por alguns dias durante a greve dos caminhoneiros, os negócios voltaram a acontecer e continuam num ritmo normal, sempre puxados pelos segmentos ligados ao agronegócio, principalmente os grãos. No geral, estamos muito satisfeitos com a aceitação dos nossos caminhões pesados pelo setor do agronegócio. Um dos mais competitivos do mundo, o agronegócio brasileiro precisa de veículos robustos, com alto grau de tecnologia embarcada e com grande capacidade de transporte e disponibilidade, para vencer as longas distâncias do nosso país.