Moderna, porém clássica, a Triumph Street Scrambler carrega décadas de histórias em duas rodas, em um segmento de motos que atrai a paixão de muitos motociclistas pelo mundo. Quando ainda não existiam motos trail, os motociclistas pegavam as motos comuns e adaptavam suspensões e pneus para brincar onde não havia calçamento. Foi assim que surgiram as scrambler. O design da Street Scrambler é oriundo da década de 50, onde as motos eram adaptadas para entrar em corridas off-road, com pneus para terra, guidão e escapamento alto. Mas os fabricantes, sobretudo europeus, começaram a dar atenção ao segmento e passaram a oferecer ao mercado motos prontas para isso.
E como o que é clássico está voltando a ser valorizado, a Triumph resolveu investir forte nas suas motos clássicas e ampliar sua gama de ofertas nessa área por aqui. Mesmo para os que não são muito fãs das motos clássicas, a Street Scrambler é uma moto à parte, pois traz um design único, numa harmônica mistura de dois conceitos contratantes: o atual e o clássico, o moderno e o antigo.
No quesito estilo, uma das coisas que mais se destaca na moto é o escapamento alto e duplo. O painel conta com velocímetro analógico, conta-giros digital, indicador de marcha, odômetro com dois marcadores parciais e um total, autonomia de combustível, consumo médio e instantâneo, além de configurações como controle de tração e controle do ABS. A lanterna traseira é em leds e sob o banco do piloto existe uma tomada USB para carregar dispositivos eletrônicos.
A Triumph Street Scrambler foi pensada também para ser personalizada. Existem mais de 150 acessórios para equipá-la de maneiras únicas e diferentes. É possível trocar o amortecedor traseiro pelo Piggyback Fox, que melhora a performance do conjunto original, adicionando até ajuste de compressão, mudança do pistão interno, além de outras modificações.
A moto é equipada com um motor de 900 cc, com comando simples de válvulas no cabeçote. O ângulo do virabrequim é de 270º, o que garante linearidade e suavidade na entrega de potência. O motor é arrefecido a líquido e tem 8 válvulas. É o mesmo que equipava a antiga Boneville, seguro, forte e que oferece razoável nível de desempenho, já que não se trata de uma moto que visa performance, mas passeio. Gera 54 cv a 5.900 rpm e tem torque de 8,15 kgfm a 3.230 rpm.
O preço de R$ 41.990 justifica o conceito e a paixão de levar uma dessas para a garagem. Uma moto que respira história e estilo. Além disso, é uma baita motocicleta, com um conjunto muito bem acertado.
Impressões ao pilotar
Criatura do asfalto
A Triumph Street Scrambler tem o chassi de aço tubular em berço, onde o motor fica acomodado sobre coxins. A distância entre os eixos é de 1446 mm, enquanto a inclinação é de 25.6° e o trail tem 109 mm. Ambas as rodas são raiadas, com 19° na dianteira e 17° na traseira. Essas medidas confirmam uma certa lentidão e previsibilidade da Street Scrambler nas mudanças de direção, como era de se esperar. No entanto, há vantagens como a boa estabilidade da moto nas retas e a facilidade de manobrar em baixas velocidades, com um centro de gravidade relativamente baixo, o que traz equilíbrio ao conjunto.
As suspensões da Street Scrambler se destacam pelo conforto oferecido, mas sem ser macia demais. A suspensão dianteira está assinada com garfos da Kayaba, com curso de 120 mm e a traseira tem um sistema de amortecedores duplos, com o mesmo curso – 120 mm, porém com ajuste de pré-carga da mola. Suas características demonstram que não há compromisso com alto desempenho, mas com uma pilotagem mais descompromissada, para apreciar e ser apreciado.
Os freios são eficientes e garantem uma frenagem, embora potente, suave e fácil de modular, tanto o dianteiro, quanto o traseiro. Na frente é um disco de 310 mm e na traseira um disco de 255 mm, ambas com pinça Nissin flutuante de dois pistões e equipados com ABS comutável – para mais liberdade nas estradas de terra. Curiosa aqui é a posição do disco de freio traseiro, que fica localizado no lado esquerdo da moto, por baixo da balança.
A Street Scrambler vem calçada com pneus Metzeler Tourance EXP, muito comum em motos bigtrail, as aventureiras que encaram grandes incursões na terra. Mas será que essa Scrambler encara o off-road? Sim, mas com limitações. A começar pela altura em relação ao solo, passando pelas suspensões não são genuinamente fora-de-estrada. A Scrambler está mais para o asfalto. Aliás, como o próprio nome já diz, é Street Scrambler, ou seja, uma Scrambler do asfalto. Na verdade o off-road que ela encara está nas estradas de terra batida, onde eram feitas as corridas de “flat track” no passado. E neste ambiente ela se sai muito bem.
A posição de pilotagem na Street Scrambler é agradável, com o guidão largo e posicionado à frente, mas as pernas ficam um pouco flexionadas e carece de proteção aerodinâmica, o que a torna uma moto desconfortável para longos deslocamentos. O banco do piloto é muito bom, confortável, macio e com bastante espaço para movimentação, mas por outro lado o banco do garupa tem a espuma muito dura, falta espaço e alças para se segurar.
Na Street Scrambler é possível andar em pé, mas a curva do escapamento atrapalha um pouco do lado direito e no trânsito mais pesado o calor que emana do escapamento é um ponto negativo, pois incomoda mesmo. Para rodar na cidade também é preciso ficar atento ao pequeno esterço do guidão, que pode dificultar manobras entre os carros. Porém a baixa altura do assento é um ponto positivo.
A utilização desse motor nessa moto é um “casamento de interesses”. Tanto a moto quanto o motor procuram facilitar ao motociclista a pilotagem, deixando tudo muito fácil de realizar e fazer acontecer. Esse é um fator realmente de grande destaque na Street Scrambler, tamanha é a facilidade de condução que ele permite a qualquer piloto, não importa sua experiência.
O fato do motor ter muito torque em baixa rotação favorece a melhor distribuição da potência nas rotações. Com cinco marchas de engate preciso e embreagem com auxílio de torque, o que deixa seu acionamento muito macio, o piloto quase sempre dispensa as trocas de marcha porque o torque é farto e o motor tem uma entrega bem elástica. Algo que facilita a pilotagem, porque não é preciso trocar de marcha toda hora ou usar muito a embreagem.
Gostoso de acelerar e com um som delicioso saindo dos dois escapamentos no lado direito, o motor transmite pouquíssima vibração e o giro é sempre muito baixo. Por exemplo, aos 100 km/h o motor está em exatos 3.300 rpm. No entanto, se decidir andar mais rápido, o giro sobe e a vibração também, trazendo algum incômodo ao piloto. Num ritmo de cruzeiro numa pequena viagem, por exemplo, dá para ficar em cerca de 4 mil giros em quinta marcha para manter os 120 km/h. Vale lembrar que nesse regime ainda há muita sobre de motor, pois ele sobe até os 7.200 rpm antes de cortar.
Apesar de ter motor para andar mais rápido, a Street Scrambler torna-se cansativa para longos percursos, o que pode ser explicado em parte pela vibração e também pela falta de proteção aerodinâmica. O consumo da Triumph Street Scrambler oscilou entre 19 km/litro e 21 km/litro, determinando uma média de 20 km/litro. Com a capacidade do tanque de combustível de 12 litros, é possível projetar uma autonomia perto dos 240 km – o que definitivamente não é uma autonomia boa para estradas.