Royal Enfield Classic 500

Avaliar uma Royal Enfield seguindo apenas padrões técnicos seria injusto – com o fabricante e com os potenciais consumidores. Afinal, é uma moto concebida na década de 50 e que recebeu apenas alguns itens de tecnologia e modernização. Seu projeto e soluções permanecem praticamente iguais aos concebidos para as motos daquela época ou um pouco mais adiante. A parte mais interessante disso é que seus admiradores e consumidores a compram (ou querem comprar) justamente por isso.

Royal Enfield Classic 500

Para uma avaliação correta da Royal Enfield Classic 500, o ideal é se desapegar dos padrões e critérios normalmente levados em consideração num teste desse tipo, sob pena de falar o óbvio e não oferecer um resultado que possa acrescentar algo útil a quem pensa em comprá-la ou admira o estilo clássico e antigo – “vintage”, para os mais puristas. Trata-se de uma moto clássica com motor de 500 cc e que foi feita para uso regular no dia-a-dia urbano e também para pequenos passeios. Ela chama a atenção pela beleza clássica e este é seu maior apelo. Detalhes que fazem diferença a favor da Royal Enfield é que a marca é inglesa, a fabricação é indiana e é a marca de motos que está há mais tempo em fabricação no mundo sem qualquer interrupção, desde 1901.

Royal Enfield Classic 500

No Brasil, a Royal Enfield só chegou oficialmente há um ano, mas já se especulava sobre sua vinda desde 2008 e a ideia original era montar as motos em Manaus, com um volume maior de produção. Por fim, os executivos indianos decidiram importar as motos diretamente em volume bem pequeno até conseguir fazer a marca se firmar no difícil e competitivo mercado brasileiro. São três modelos Royal Enfield disponíveis no Brasil: Classic 500, Bullet e Continental GT. Com o charme e o estilo como maior valor, a Royal Enfield Classic 500 se torna uma joia que não tem preço. Por falar em preço, ela sai por R$ 22.400.

Impressões ao pilotar

Viagem no tempo

Royal Enfield Classic 500

São Paulo/SP – Foi oferecida para o teste a Classic Chrome, com cromados por todos os lados e “equipada” com o banco para garupa – normalmente a Classic 500 vem apenas com o tradicional banco com molas para o piloto. Em meio ao processo que os indianos iniciaram para poderem vender as Royal Enfield para Europa, EUA e América do Sul, está a adoção de algumas soluções “modernas”, como sistema de injeção de combustível e os freios com ABS. Mas, de resto, a moto mantém suas características originais. O motor é de um cilindro, 499 cm³, que oferece 27,2 cv de potência a 5.250 rpm e torque de 4,2 kgf.m a 4.000 rpm. Arrefecido a ar, esse motor trabalha com uma caixa de cambio de cinco velocidades assistida por embreagem multidisco em banho de óleo. Assim ela mantém o projeto mecânico da década de 50, com o pistão com curso longo e engrenagem volante, em boa parte responsáveis pela força em giros baixos.

Royal Enfield Classic 500

Nada contra torque em baixos giros, mas a falta de qualquer solução para diminuir a vibração transmitida pelo motor ao chassi e ao restante da moto, e daí ao piloto, penaliza o conjunto e a tocada. Essa vibração se percebe todo o tempo, mas ela se acentua aos 80 km/h, isso se o piloto não esticar as marchas para giros mais altos (ela não tem conta-giros). Mas se mantiver giro baixo e marcha alta, o torque está lá disponível sempre e a vibração não chega a atrapalhar. Na cidade, tudo é uma questão de costume. A moto é pesada, mas o torque é uma ótima arma para mantê-la sob controle. Ela manobra bem entre os carros, com acelerador e embreagem de fácil manejo e engate das marchas é duro, mas preciso. No entanto, um pequeno detalhe que a fábrica já poderia ter visto a ajustado é o pedal do freio traseiro, que está muito próximo da curva da saída do escapamento, uma área cuja temperatura supera os 300 graus Celsius. Na moto avaliada, já havia uma marca no escapamento de algum calçado que derreteu naquela região e deixou sua marca.

Merece destaque (positivo e negativo) o consumo de combustível. Se enrolar o cabo e usar a moto de maneira apressada ou esportiva, o piloto deve preparar o bolso porque o consumo de gasolina vai ficar abaixo dos 20 km/l. Com rotações mais altas, a vibração fica mais amena e suportável. Ja em um longo trecho misto entre estrada e cidade, sempre com baixo giro e velocidade máxima de 80 km/h, o consumo ficou em 37,34 km/litro, uma marca excepcional. No total da avaliação, foram percorridos 610,5 km com 22,46 litros de gasolina com a Royal Enfield Classic 500 e o consumo médio foi de 27,18 km/litro. Um resultado surpreendente, que merece destaque como um ponto muito favorável à moto.

Royal Enfield Classic 500

Já que a pegada da moto é passear na boa, quase desfilando, o conforto passa a ser uma exigência. E ela oferece muito conforto, a começar pela posição de pilotar ereta e relaxada, como o guidão largo e elevado e as pedaleiras colocadas à frente. O grande peso (190 kg) e o chassi tubular tipo diamante com o motor fazendo parte da estrutura dão à moto a rigidez necessária para mantê-la estável em qualquer condição. No entanto, apesar dela responder bem às solicitações de mudanças de direção, ela o faz de forma lenta, uma característica das clássicas.

As motos Royal Enfield prometem e entregam uma experiência de pilotagem diferente do que se tem até hoje disponível no mercado brasileiro. Certamente há os que gostam do estilo retrô, não tem qualquer necessidade de desempenho rápido e não estão dispostos a gastar perto de R$ 40 mil numa clássica como a Triumph Bonneville ou uma Ducati Scrambler, por exemplo.

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