No Brasil, se vende todo tipo de motocicleta. Dos imponentes modelos de turismo, passando pelas sedutoras superesportivas, até chegar às populares streets, que têm na Honda CG 160 seu ícone – é o veículo mais vendido do país. Mas, além dos diversos modelos oferecidos pelos fabricantes, as motos podem ainda ser personalizadas. A criatividade visual e soluções ciclísticas e mecânicas podem ir além da imaginação. Projetos assim consomem horas, meses ou até anos de dedicação para transformar ferro e aço em verdadeiras joias sobre duas rodas. Foi da década de 1970 que veio a inspiração para a Café Daytona, o primeiro projeto de customização de motocicleta da oficina paulistana Target Race. A referência visual veio de uma Honda Daytona. Para recriar essa lenda das pistas de mais de 40 anos atrás, foi necessário “ressuscitar” um outro modelo da marca nipônica, uma CB 1300 Super Four ano 2008.
Dentro do ramo de customização de motocicletas, o estilo “café racer” tem atraído fãs em todo mundo. As “cafés” surgiram em meados das décadas de 1950 e 60 e eram usadas por jovens londrinos em “rachas” nos arredores cidade. A ideia era percorrer um determinado percurso, em alta velocidade, com partida e chegada em um mesmo local, uma cafeteria – daí o nome. Redução de peso com o descarte de peças, banco solo, guidão curvado para baixo e pedaleiras recuadas são as principais características deste estilo de personalização.
Recuperada em um leilão, a CB 1300 ano 2008 que serviu de base ao modelo personalizado pela Target Race foi totalmente desmontada e passou por uma completa análise. O chassi, por exemplo, foi “gabaritado” para verificar se não havia nenhuma anomalia que comprometesse a segurança. Carlos Alberto Martinez, experiente mecânico que trabalhou em competições internacionais, recebeu “carta branca” do dono da moto, um empresário da construção civil, para criar uma moto única. “Deixei claro que focaria todos meus esforços e conhecimentos técnicos na construção desta ‘cafe racer’. Tudo foi pensado e executado como se a moto estivesse sendo feita para mim”, explicou o mecânico de 40 anos, conhecido por “Kabello”.
Passo a passo
O primeiro passo na construção da Café Daytona Target Race foi a substituição da parte dianteira da CB 1300, totalmente danificada. Para um melhor desempenho nas ruas e estradas, a Honda ganhou na parte dianteira suspensão invertida, com múltiplas regulagens. Inspirados no design da Daytona de 1970, Kabello e sua equipe desenvolveram um ‘body kit’ construído em fibra para dar nova silhueta à CB 1300. Tanque e rabeta formam uma peça única fixada por apenas dois parafusos. Sob o tanque falso há um depósito de combustível de 13 litros, feito em alumínio.
Em função das características construtivas da Café Daytona, o piloto fica em uma posição de pilotagem bem ‘racing’, com o tronco projetado para frente e as mãos apoiadas em semiguidões. Outro trabalho que gastou horas de desenvolvimento foi o de criação e produção de dezenas de peças em alumínio, feitas no torno e seguindo padrões estéticos, funcionais e de segurança. A moto ganhou ainda um completo conjunto ótico, que adotou iluminação de leds. O aro do farol – também em alumínio – é fixado apenas do lado esquerdo.
O refinamento do acabamento das peças não parou por aí. Para dar um charme especial, a equipe da Target Race fez cornetas em alumínio anodizado vermelho para decorar o corpo da injeção eletrônica, simulando as ‘bocas’ do carburador. O motor de quatro cilindros em linha, DOHC (Double Over Head Camshaft), de 1.284 cm3 da CB 1300 recebeu apenas um ajuste fino e oferece seus originais 111 cv de potência máxima. O som médio grave que ecoa pelas quatro ponteiras, duas de cada lado, harmoniza com o resultado estético da moto. As ponteiras também foram fabricadas artesanalmente. A Café Daytona da Target Race ganhou ainda suporte avançado para as pedaleiras e moldura em alumínio para o miolo da chave. O punho esquerdo usa ‘botoeira’, que segue o mesmo padrão utilizado nas motos de competição.
Ciclística e freios calibrados
Em função da substituição das bengalas da suspensão dianteira, também foi possível diminuir o ângulo de cáster. Com esta alteração na geometria para redução do entre-eixos, a moto ficou mais ágil nas mudanças de direção, como as motos de competição. Já na parte traseira, todo o conjunto passou por uma completa revisão, com a troca de óleo e verificação das molas, que ganharam um vistoso acabamento em cromo.
Os depósitos de hidrogênio foram pintados de vermelho para combinar com outras peças da moto. A Cafe Daytona Target Race recebeu pinças de freio com fixação radial, de quatro pistões que mordem grandes discos de 300 mm. “Que venham outros projetos customização. Quero fazer motos de personalidade forte!”, vibra Carlos Kabello, da Target Race.
